Quem sou eu

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Somos parte daqueles que entenderam o pedido de Jesus para que trabalhadores fossem enviados para a seara branca, pronta para colheita.

04 janeiro 2009

A quem compararei esta geração?


A primeira vez que fui àquela vila, achei que lá fosse mesmo um local distanciado de igrejas e necessitado de pessoas que os amassem com a sinceridade do evangelho de Jesus. Logo alguém me falou que lá havia duas igrejas, daquelas bem legalistas, daquelas cuja primeira impressão é que se eu não cumprir todas as ordenanças estipuladas, estarei definitivamente esquecida por Deus. Entendi então a aquela moça que me disse, muito constrangida, lá na prisão, atrás das grades, que orasse por ela, pois havia ainda muita mudança a ser feita na sua vida. Ousei dizer se a mudança tinha a ver com mega hair de tranças coloridas do seu cabelo. Era isso mesmo. Tentei convencê-la de que Deus não estava preocupado com aquilo, e se olhasse bem para mim, apesar da pastora e da pregadora, tinha os meus cabelos muito vermelhos, nada convencionais para “alguém de Deus”, aliás Ele não estava preocupado com isso. Mais tarde, conversando com a mãe dela, lá na Vila Estação, compreendi a razão de tudo. A imagem de um deus que nos limita no vestir, na aparência, nas exterioridades. Mesmo que no interior continuemos necessitados e vazios. A aparência dá a essas pessoas carentes na alma e no corpo a fantasia da santidade.

Não ficou só nisso. Nas andanças de evangelismo pela vila, entre as extremas pobrezas, os barracos, os bares e os casebres descobri muitas portinhas de igrejas evangélicas, todas muito extremas nos seus usos e costumes. Estavam ali permeadas pelos traficantes e pelas crianças sujas, molambentas brincando no meio da rua, em nada mudavam ou nada acrescentavam à paisagem lúgubre. A inquietação da minha alma cresceu e borbulhava na medida em que não via contrastes das imagens. Onde está o evangelho das boas novas? Não via boas novas naquele lugar. Onde está o poder de transformação e vida e esperança que só vem pela cruz de Jesus?

Quando já considerava toda aquela avaliação como finda vi desvios, manipulação, poder ditatorial, protecionismo, nepotismo...vindo de cristãos.

No avesso disso tudo. Um simpatizante do evangelho, visitante esporádico de uma igreja, alguém que com certeza não seria merecedor nem de ser um porteiro, segundo as normas pastorais, já que um novato não tem “condições” de ser obreiro, esse mesmo, essa pedra que não se cala, se propõe a ter compaixão dos meninos – presas certeiras dos traficantes – e dá a eles a oportunidade de, jogando futebol, ouvir palavras de esperança e ensinamento.

Ainda há um outro alguém naquele lugar, que envolve os jovens em coisas boas, mas que também não está devidamente a altura de um ministério, e para que ministério se as pessoas estão assim tão carentes de quem-se-importa.

Que evangelho pode assisti-los? Quem pode providenciar uma certidão de nascimento para a criança se matricular na creche? Quem pode encaminhar aquela criança para uma cirurgia de cataratas? Quem pode arrumar um aparelho de surdez para aquela menina tão esperta, que ficou surda por causa do som alto que os pais inconseqüentes ouviam quando ainda era bebê? Quem pode arrumar um barraco para aquela avó se abrigar com os netos? Quem arruma uma roupa usada? Quem pode dar instrução de qualidade a quem tem fome de conhecimento? Quem?

Quando fizeres a um desses pequeninos, a mim o fizeste. Mas diremos ao Senhor naquele dia, estávamos tão ocupados manipulando pessoas e recolhendo dízimos, ocupados com nossos cerimoniais e ritos religiosos que não vimos ou não quisemos ver.
E são justamente esses pequeninos que precisam de uma presença de verdade, da revelação de um Deus diferente do que dizem ser esse deus pregado lá.

Por trás do olhar desconfiado, da humilhação, do cansaço de quem quer só convertê-los a um modo de vida, somente catequizá-los, há um clamor que ninguém escuta.

Uma senhorinha vinha caminhando de encontro a mim. Trazia nos braços, bem abraçada e quase escondida uma imagem de nossa senhora. Passou rápido para que ninguém tirasse dela sua esperança.

Tudo isso tem posto um peso sobre mim. No ministério Aglow tem acontecido coisas semelhantes. Os capacitados, os preparados, os devidamente ungidos não podem responder ao clamor, o seu dia-a-dia ministerial e as exigências pastorais sufocam o grito daqueles que, oprimidos, clamam por escape. Como ouvirão se não há quem pregue? Como vão crer se não ouviram? De quem serão os pés que sairão do comodismo evangélico, do conforto dos rituais dos cultos dominicais para ir aonde há quem precise ouvir. Mas há alguns que vão, sem nem mesmo terem condições para ir – isso é graça e misericórida. Obrigada, Senhor porque eles vão. São como aqueles que querem fazer diferença naquela pobre vila.

Estava assim com o coração cheio e pesado com tudo isso. Estão li esta palavra de Jesus:

"Com quem compararei esta geração? É semelhante aos meninos que sentados nas praças, clamam aos seus companheiros: Tocamos flauta, e não dançastes; cantamos lamentações, e não pranteastes. "(Mateus 11:16-17)

Somos essa geração de crianças que agem incoerentemente com a necessidade desse tempo. Estipulamos metas de procedimento para outro sem um auto-olhar para nossa mesquinhez e orgulho. Como crianças mimadas, emburramos quando o outro não faz o que queremos que faça. Não percebemos que se o outro não dança conforme a nossa música, é porque a nossa música não faz sentido para eles. E que suas lamúrias já não comovem mais ninguém.

E Jesus continua no mesmo contexto...
"Porquanto veio João, não comendo nem bebendo e dizem: Tem demônio. Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores. "

Seja como for, João e Jesus vieram. Quem julgava as exterioridades nem notou o que significava a vinda deles, principalmente a de Jesus. A história se repete. Muitos estão indo, mesmo debaixo do julgamento de que não tem condições ministeriais para isso. O que importa é que estão indo como pedras falantes. Eles, com certeza, ouvirão o vinde benditos de meu Pai.

Desejo em 2009...


Praticar a solidariedade sem querer a recompensa de quem me vê.


Orar sem hipocrisia. Jejuar sem hipocrisia.


Perdoar as ofensas que outros fizeram a mim, assim como Deus perdoa minhas atitudes más.

Acumular tesouros nos céus e pôr meu coração nesses tesouros, lutar contra o apelo consumista.


Ter olhar de luz para ver que é possível enxergar a bondade, mesmo no meio do caos. Se meus olhos forem bons, todo o meu corpo estará bem.


Escolher servir só a um senhor, o meu Senhor Jesus.


Não me preocupar com o amanhã, na certeza de que Ele cuidará de cada detalhe...assim como


Ele cuida dos lírios e das aves.

Porque depois de buscar o Reino dEle, todas as outras coisas me serão acrescentadas.

Por tua graça e misericórdia, Senhor, me ajude a desejar e praticar isso.


Mateus 6

03 janeiro 2009


O tempo chronos do relógio...o tempo Kaíros do momento....o tempo Proskairos de estação passageira, do transitório....o tempo Eukairos – tempo da necessidade.
Proskairos é o tempo transitório. É momento em que temos que separar o que vemos do que não vemos. O que é momentâneo do que é eterno. O que é sentimento humano do que é propósito de Deus. Estamos num tempo prokairos, transitório, de trânsito, aguardando o kairos – o momento (de Deus) onde tudo acontece de fato e de modo eterno. “...o que vemos é temporal e o que não vemos é eterno...” Hebreus 4:18

O outro não sou eu!!!


Viver em sociedade é ter a capacidade de olhar o outro. Essa proposição, mais ideal que real, nos faz pensar que somos desafiados diariamente a não satisfazer nosso ego.Quem convive, na realidade dos relacionamentos conflituosos, nunca está disposto a ver no outro o diferente, o diverso, o outro lado da moeda. Criam-se, nesses relacionamentos, expectativas de que o outro seja uma extensão de nós mesmos, do nosso desejo, do cumprimento de nossas satisfações, de nossas atitudes, até, de modo desesperador, almejamos que o outro seja aquele que vai dar o sentido a nossa existência.É justamente esse narcisismo que de fato nos entorpece. Impede-nos de ver o outro como um indivíduo, como uma identidade que só fará sentido na medida em que, unida a cada um de nós, formará o todo-cidadão que compõe uma comunidade.Só quando formos capazes de entender que as diferenças são, em todas as formas, riquezas multifacetadas do ser “ser humano”, estaremos aptos à convivência saudável. Não nos bastamos sozinhos, mas o complemento de nós mesmos é divergente daquilo que acreditamos ser o perfeito. Aguardar que o outro seja um títere de nossas frustrações é tão medonho quando ser um eremita que, admitindo sua culpa, satisfaz-se com a solidão, com a secura dos relacionamentos.Olhar o outro é, acima de tudo, aceitar nossas limitações como humanos, compreender a nossa mais sublime virtude: ser diverso. Isso até inclui o erro. Ainda assim, aceitar o outro é compreender suas tentativas de amadurecimento. É ter a plena consciência de que somos assim seres em evolução. Nada perfeitos.